Sobre o que acho dos rolezinhos

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Diante de tanta, mas tanta conversa sobre os rolezinhos, decidi dar minha opinião. E minha opinião vale a pena? Tanto quanto a sua, caro leitor.

Li muito sobre o assunto, vi muitos vídeos, reportagens, postagens e matérias de jornal. Tirando uma ou outra opinião não-apaixonada, via de regra o que se vê é: ou a exposição do egoísmo e imbecilidade de uma direita que só consegue olhar para o próprio rabicó; ou a inocência de uma esquerda que acha que por ser pobre não pode ser bandido.

Pra mim fica o recado para ambas as frentes: pobre não é sinônimo de bandido e necessita sim ter suas necessidades atendidas e direitos garantidos; e sim, exite pobre bandido, assim como existe rico bandido. A diferença está na aplicação da pena.

Vi, por exemplo, a Raquel Sheherazade (não parece que está sobrando letra no nome dessa cidadã?) falando sobre o assunto e estampando no SBT o que pode haver de mais idiota na opinião de uma pessoa. Segue o vídeo:

Raquel consegue cagar pela boca em cada um dos 58 segundos do vídeo. Por quê? Porque claramente defende o direito do rico, falando com todas as letras que rolezinho é igual a arrastão. Ao dizer isso, ela afirma que todo e qualquer cidadão participante do movimento está lá para roubar; a “jornalista” acusa o “bandido” que jamais roubou, Raquel diz sim que pobre é sinônimo de bandido.

Posso imaginar muita gente concordando com ela, li muitas pessoas no facebook inclusive dizendo coisas do tipo “queria ver você lá, quando sua família fosse arrastada por todo mundo e você sem poder fazer nada”. Ao que me parece não houveram casos de sequestro. Não vi ninguém, pelo menos, indo pro jornal e falando “eu estava no shopping, quando veio uma multidão de pobre que pegou minha família e sumiu com ela. As autoridades precisam fazer alguma coisa”. Se isso aconteceu, por favor me passe o link da reportagem. Mas entendo sim o susto do cidadão de classe média (gente, não estou falando “classe média” no sentido pejorativo, estou falando do cidadão de bem mesmo, o cara que tem seu dinheirinho, vai ao shopping com a família, não é racista, não é fascista nem nada). Imagino que possa ser um pouco assustador ver o shopping tomado por quem geralmente não está lá. Provavelmente eu me assustaria se visse uma galera fazendo zoeira na escada rolante, por exemplo, como vi nalguns vídeos. Mas esse susto se daria provavelmente muito mais pela surpresa de ver algo tão fora do habitual do que por achar que o shopping foi tomado por ladrões. Por isso também não tenho o opinião ingênua que muitos defensores têm de achar que o susto do cidadão de classe média trata-se APENAS de preconceito. Uma mania muito feia que muita gente de esquerda tem é querer possuir o monopólio da virtude: se não é de esquerda, é homofóbico, racista, fascista, etc…

Infelizmente não tenho o link, mas vi amigos de facebook compartilharem um vídeo de pessoas, que pareciam ser do rolezinho, subindo em mesas da praça de alimentação e derrubando tudo. A isto sim eu chamo de depredação do patrimônio e está longe de manifestação pacífica. Isto sim é crime, isto sim deve ser punido.

Mas quem deve ser punido?

Quem cometeu o fato, oras. O que ocorreu em alguns shoppings que conseguiram a liminar do apartheid foi que considerou-se o pobre como criminoso pelo simples fato de parecer pobre: é menor, é preto, é pobre, está desacompanhado? Se sim, é criminoso e com certeza vai roubar e destruir. Isso é que não dá, isso é que não pode, Arnaldo!

Quer a prova de que trata-se de preconceito contra o pobre? Aliás, que trata-se do preconceito especificamente do pobre  “hip-hop” ou do pobre “funk”? Leia esta matéria da Gazeta do Povo:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1439143

Pobre evangélico e branco? Problema nenhum. Pobre preto e com cara de “mano”? Nem entra. Cheguei a ver, pasme, gente falando que o rolezinho evangélico é mais um “flash mob” e que o rolezinho dos grandes jornais é “arruaça”.

Além de tudo isso, vi os intelectuais que querem levantar teorias sociais sobre os ocorridos. Vi também muita gente diminuindo a opinião destes intelectuais com o argumento de que “os participantes do rolezinho não querem nenhuma mudança social, não estão atrás de política, querem somente bagunçar/passear/dar um rolê/dar uns beijos”. De fato creio que muitos, ou até todos os participantes não tenham a intenção de promover algum movimento político ou alguma palavra de ordem social. Isso não quer dizer, no entanto, que eles não tenham feito exatamente isso: ao dar o rolezinho, estes jovens fizeram florescer e mostrar que o brasileiro é sim racista e que nossa classe média tem sim nojo e medo de pobre. E por este fato os intelectuais podem e devem teorizar a respeito.

Um documentário bem interessante sobre o assunto, que data de algum tempo atrás, fala sobre esse tema e teoriza sobre o passeio dos pobres no shopping:

Isto posto, preciso emitir minha opinião: todos têm direito a passear, ir ao shopping, se divertir. Não se engane com a opinião da querida Sheherazade que diz que são espaços privados. Não são. São espaços públicos e o verdadeiro criminoso é aquele que se recusa a atender um cidadão em espaço comercial por motivo de cor, orientação sexual, classe social, religião, etc.

“Mas Diego, e os arruaceiros/criminosos/ladrões que estão no meio dessa galera?”. Respondo: se estão lá, que sejam presos, independente se estão comendo pão com mortadela da padaria do seu Pedro ou Temaki Filadélfia na praça de alimentação. Mas criminoso só é criminoso se comete crime, e, até onde sei, ser pobre no Brasil ainda é legal.